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sexta-feira, 18 de julho de 2014

Ser Livre

Ser livre não é apenas tirar as correntes de alguém, 
mas viver de forma a respeitar e ampliar a liberdade dos outros.
Nelson Mandela

sábado, 14 de junho de 2014

Somos querer.


Cada um de nós é a linha que vai do que sente ao que faz e que passa pelo que pensa e diz... somos o que escolhermos sentir, pensar, dizer e fazer. Somos querer

Não podemos controlar o que sentimos, mas cabe-nos, sempre, escolher entre consenti-lo ou afastá-lo. Não controlamos tudo o que pensamos, mas cabe-nos a responsabilidade de escolher. Nem sempre optamos por dizer ou calar o que é melhor, mas, apesar de tudo, é essencial traçar a linha que separa o que queremos do que não queremos ser...
Já o que fazemos (e o que não fazemos) depende, quase na totalidade, da nossa vontade. Devemos pois ordenar o que sentimos com vista a definirmos quem somos e quem queremos ser, a fim de agir de acordo, sem grandes desculpas, mentiras ou promessas vãs.
Cada um de nós é a linha que vai do que sente ao que faz e que passa pelo que pensa e diz...  somos o que escolhermos sentir, pensar, dizer e fazer. Somos querer.
A verticalidade de um homem depende da forma como assume o que sente, da profundidade com que pensa, da verdade do que diz e do valor absoluto das suas ações. E, claro, da harmonia que consegue entre estas suas quatro dimensões.
Há muita gente desafinada... perdem-se apesar de alguns acharem que assim conseguirão ultrapassar a verdade. Um dia acordam e compreendem que foram afinal escravos do mundo, quando podiam ter sido senhores do seu destino.
A autoridade é o poder do autor, competindo pois a cada homem dominar-se aos diferentes níveis, ordenando-se em vista do seu maior bem.
Não sou o que sinto, nem o que digo, sou o que quero... e, em última instância, o que escolho fazer, apesar de tudo.
É próprio do homem elevar-se acima da sua condição animal, ponderando e julgando as suas ações. Quem se rende de forma passiva ao que sente, demite-se de ser homem.
Eis a essência da liberdade: uma vontade esclarecida.
A espontaneidade dos instintos é algo primário, os apetites são desejos mas não são vontades, apesar do engano que a linguagem induz. Apetites são tendências naturais básicas que correspondem a desequilíbrios e necessidades primitivas que, apesar de tudo, pode a vontade humana ultrapassar. Os instintos são bons, desde que ordenados.
Como posso chegar a ser quem quero? Através do domínio do que consinto, penso, digo e... faço.
Não é bom ser-se uma solidão cheia de amor. Deve fazer-se com que essa vontade se faça real, se pratique, chegue ao mundo concreto e o enriqueça. Claro, importa analisar e avaliar muito bem o que nos rodeia, não vá abraçar-se alguém errado... é verdade que temos amor e braços para dar, mas temos também olhos e inteligência para escolher a quem devem chegar.
Se há momentos maus na vida em que parece nada haver que nos anime, será desses, mais do que em quaisquer outros, que é mais importante sair... buscar o  melhor com todas as forças, contra todas as evidências. Mais determinante que as circunstâncias será sempre a vontade íntima de se ser feliz. As tristezas não podem evitar-se... são tempos de extrema verdade e dor, mas são momentos... a que devem suceder outros momentos. Numa linha em que o querer impera... apesar de tudo.
Tudo tem o seu tempo, tudo pode funcionar em harmonia. Assim haja boa vontade.
Quando andamos, um pé fica para que o outro voe para diante. Importa aceitar que seguir para a frente não é negar o que fica para trás, mas antes fazê-lo parte de algo maior que o momento, maior que o tempo...
Desilude-se quem nesta vida julga que a luta acaba depois de uma batalha. Sempre haverá mais batalhas, mais feridas, talvez ainda mais profundas, mas também mais conquistas, mais alegrias e sempre, sempre, mais vida... para continuar a lutar. Assim haja querer, para caminhar rumo ao melhor de nós.

Por José Luís Nunes Martins

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Vista cansada

É comum ouvir pessoas de 40 ou 50 anos dizerem que têm a vista cansada.
Esse mal óptico é facilmente corrigível pela adequada prótese ocular, e por isso no momento oportuno puxam de uns óculos maravilhosos, que os ajudam a ver o que precisam, quer seja um jogo de palavras cruzadas ou um casaquinho de malha (sim, são estas as grandes ocupações desta geração).
Contudo, bem mais alarmante que essa natural fraqueza ocular, é a vista cansada que nada tem que ver com retinas e demais. Estamos a falar da própria forma como se vê as coisas. Estamos a falar de um olhar cansado: que já não se espanta, que já não se entusiasma, que já não tem esperança. E há quem o tenha desde os 20 anos.
É um olhar desapontado com a realidade: Eu já vivi muito… Eu sei como as pessoas são… Já sei tudo o que preciso saber. Já nada me surpreende…

É um olhar que perdeu 3 capacidades:
1. O espanto
O espanto é uma interrupção da realidade. É ser surpreendido por pequenos milagres. Milagres tão simples como sentir pele de galinha, ver uma lua cheia ou receber um abraço inesperado. O espanto é uma capacidade própria dos humildes e das crianças. É próprio de quem se deixa surpreender, próprio de quem não sabe tudo. O espanto é o começo do entusiasmo.
2. O entusiasmo
O entusiasmo é uma distorção da realidade. É pegar nela e puxá-la para cima. O entusiasmo põe os olhos a brilhar e faz-nos fazer loucuras. Mas loucuras absolutamente necessárias: ir dançar uma noite inteira depois de um dia de trabalho. Ver o nascer do sol. Mergulhar num mar gelado. Beijar a pessoa de quem se gosta. O espanto é o começo da esperança.
3. A esperança
A esperança é uma superação da realidade. É esperar sempre a coisa maior. É contra todas as evidências, confiar que a vida vai-se expandir em possibilidades nunca antes previstas ou imaginadas. A esperança nada tem que ver com o optimismo, esse copo meio cheio e meio tonto. Ela parte de razões muito mais fundas, que não vacilam mesmo nas dificuldades. Ela permanece, porque está assente na convicção inquebrável que independentemente do que aconteça pode sempre nascer uma coisa melhor das condições presentes.
No fundo, a vista cansada é deixar de se espantar, e por isso deixar de se entusiasmar, e por isso deixar de ter esperança. É perder a capacidade de brincar com a realidade: deixar a reinventar, sonhar e construir. É deixar de se surpreender.
Mas pode uma pessoa ter uma vista cansada e recuperar o seu olhar?
Pode, mas dá trabalho. É preciso deixar tudo o que cansa o olhar:horizontes sem perspectiva, relações sem amor, acções sem sentido.
Mas não basta isso… é preciso descansar o olhar em coisas que valem a pena. Reparar e parar no que anima e no que entusiasma. Acreditar e voltar a acreditar nas coisas pequeninas e nas coisas grandes. Agradecer tudo o que há e tudo o que não há.
E assim aos poucos, podemos recuperar um olhar que se surpreende. Um olhar fresco e um olhar descansado.
Um olhar que ao chegar aos 50 anos até se vai rir… quando reparar nas palavras cruzadas ou no casaquinho de malha que tem ao colo.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Casar por Amor - Miguel Esteves Cardoso

Casar por AmorQuando eu pensava que não podia ser mais feliz, manhã após manhã era mais, mas só um bocadinho mais do que o máximo humanamente possível; pensava eu ser absolutamente impossível que eu fosse, de repente, muito mais feliz, do que a própria felicidade até. Mas, de repente, fui. Muito mais. Casei com o meu amor e o meu amor tornou-se a minha mulher, minha em tudo, para tudo, para sempre. E eu, finalmente, consegui divorciar-me de mim e deixar de ser tão triste e aborrecidamente meu, trocando-me, no melhor negócio do século, por ela. Ela ficou minha. Eu fiquei dela. É ou não é estranho e lindo e bem pensado por Deus Nosso Senhor que ambos pensemos que nos livrámos de boa e ficámos a ganhar? É.

É sim. A minha mulher é mais minha do que eu alguma vez fui meu — e eu antes não podia ter sido mais para mim, felizmente. Por ter tudo agora para lhe dar. Que alívio. Nunca mais me quero ver na vida. 
A não ser aos olhos dela, onde sou muito bem visto — talvez o maior homem que já viveu, logo a seguir ao pai dela, claro. É um milagre como melhorei tanto. E paradoxalmente sem deixar de ser eu por causa disso. Ou mesmo que deixasse, com tal amor não tinha saudades nenhumas. 

Sou em termos estritamente matemáticos, amorosos e integrais, tanto mais dela como o todo absoluto que ela é e me deu. 
Afinal o casamento é a maior ajuda que se pode receber. Passa-se a pertencer. E, em troca, passa-se a possuir. A pertencer e a possuir mesmo. Fica-se, por troca, sossegadamente apropriado e violentamente proprietário. 
Não me venham com modernismos de meia-tijela, liberalices sem fundamento humano, tretas de quem não ama, de quem não aspira ser de outro, amado, que nos ama. Casar é trocar. Casar é trocar a liberdade podre, que é a de cada um, pela posse rica, que é a de quem se quer. E casando se passa a ter, absolutamente, por vontade de quem se dá e de quem recebe. 

Casando por amor prescinde-se do nosso pior inimigo (nós próprios), entregando-o a quem sabe e gosta de aproveitá-lo, abusá-lo, tirar o maior prazer dele. E recebe-se quem mais queremos, para dela fazermos o que queremos, que é tudo. 

Miguel Esteves Cardoso, in 'Explicações de Português'

A Deus, Manuel Forjaz!


quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Não abandones a tua Alma à tristeza

"Não abandones a tua alma à tristeza,
não te atormentes a ti mesmo nos teus pensamentos.
A alegria do coração é a vida do homem,
e a alegria do homem aumenta a sua longevidade.
Anima a tua alma e consola o teu coração 
e afasta a tristeza para longe de ti,
porque a tristeza faz morrer a muitos,
e nela não há nenhuma utilidade.
A inveja e a ira abreviam os dias,
e a inquietação faz chegar à velhice antes do tempo.
Um coração bondoso está num contínuo festim,
ele cuida da sua alimentação."

(Sir 30, 21-25)