Todo aquele que
habita a solidão sabe que o medo é o oposto da felicidade. O isolamento
de quem foge é assustador e pesado. A solidão de quem dá um passo
adiante, quando todos os outros ficam quietos, é bela e voa.
Ser original, nos dias que correm, não é
tarefa fácil. A normalidade exige e atinge picos de afinação incríveis.
Até mesmo os sonhos são como que versões autorizadas de um sistema que
oferece muitas opções, mas sempre só em circuito fechado. Sair do
habitual é uma ousadia que a multidão condena a priori. Os obedientes
contribuem para a perpetuação do estado de coisas, vaiando de todas as
formas quem desafia sair do caminho.
Porque eu não sou como os outros, devo preocupar-me quando estiver a parecer-me com eles.
Mas sair da lógica da multidão é
desafiar a irracionalidade. A massa é acéfala e rege-se por princípios
de estabilidade e força, alimenta-se da renúncia das vontades
individuais, num movimento gigante e potente.
Quem quer ser feliz deve ser original,
sempre, desejar criar o novo, aceitar agarrar a sua vida em vez de
esperar pelo que possam trazer as mãos do mundo. É preciso expor-se
totalmente e arriscar tudo, porque só quando se compromete tudo se pode
alcançar o raro prémio de que quase todos desistem cedo demais. A
felicidade.
Quando se ama verdadeiramente pouco se teme, por isso se fica mais perto do céu.
Os meus braços servem para abraçar e não para me esconder atrás deles.
O sofrimento da solidão tem sentido absoluto quando o peito está descoberto. Só com os braços bem abertos se ama.
(publicado no jornal i - 3 de março de 2012)
publicado por José Luís Nunes Martins
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